"É triste chegar aqui e ver os cadeados arrombados, tudo bagunçado, imagens jogadas na rua, quebradas. É uma violação do nosso espaço sagrado".
É assim que Pai Costa, de 63 anos, há 45 atuando como dirigente umbandista, descreve o último ataque que seu templo, o Centro Espírita Pai Benedito de Angola, sofreu em 7 de junho, na zona norte do Rio de Janeiro.Maranhense, Costa mudou-se para o Rio aos 16 anos, e mantém o centro no mesmo local há 26, mas diz que nunca esteve tão preocupado com atos de violência contra os praticantes de cultos de matriz africana. Embora não sejam novidade, os ataques ganharam destaque nos últimos dias após a menina Kaylane Campos, de 11 anos, ter sido atingida por uma pedra na cabeça quando saía de um culto de candomblé na Vila da Penha, também na zona norte.
O caso gerou grande repercussão e trouxe à tona uma situação descrita por dirigentes de cultos de matriz africana como um aumento das hostilidades contra seus praticantes e seus locais de reunião, assim como aos símbolos sagrados destas religiões.
Em reação ao que classificam como uma gradual escalada de violência, alguns terreiros resolveram investir pesado em segurança, com cercas de arame farpado, muros com cacos de vidro, alarmes com sensores de movimento, cadeados e portões reforçados, além de câmeras de vigilância - alterações que levam alguns dos centros a parecerem mais fortalezas medievais do que centros de devoção religiosa.
'Central' e preocupação
Pai Costa gastou R$ 4.500 para instalar oito câmeras, além de um sistema de alarmes e cercas de arame farpado. Vizinho ao templo, ele monitora tudo que é gravado a partir de uma central instalada em sua sala de estar. "Daqui a gente pode ver tudo que está acontecendo, e podemos recuperar as imagens e depois enviar para a polícia", conta.As medidas foram tomadas após três invasões. A primeira, em dezembro do ano passado, e as outras em janeiro e abril deste ano. "Eles já deixaram uma Bíblia sobre minha mesa. Abrem arquivos, espalham papéis, quebram garrafas de bebida e jogam sobre as imagens. Levam oferendas para a rua, quebram e deixam tudo largado. É muito desrespeito", diz, complementando que objetos de valor, como televisores, nunca foram roubados.
O umbandista acredita que o investimento está valendo a pena. "Há duas semanas, na quarta invasão, arrombaram os cadeados e passaram pelo portão, quando o alarme foi disparado. Só deu tempo de pegarem uma imagem próxima e quebrá-la na calçada. Não conseguiram chegar até o salão", relembra.
Para Luiz Fernando Barros, de 52 anos, e há 37 religioso da umbanda, o cenário atual é de muita preocupação. "Está havendo uma inversão de valores. Em tese, ninguém nasce odiando ninguém. Há uma campanha sistemática por parte de algumas igrejas de disseminar esta mensagem em massa, incitando a discriminação e ao preconceito inter-religioso", opina.
Seu centro, o Templo Estrela do Oriente, ocupa o mesmo espaço há oito anos, no bairro de Piedade, zona norte do Rio. Antes dele, o local abrigou outro templo de umbanda por 65 anos.
>>http://www.bbc.com/portuguese/noticias/2015/06/150625_intolerancia_religiosa_terreiros_pai_jp
0 Comentários
Obrigado pela sua visita!